domingo, 24 de janeiro de 2016

Com o tema “Vítimas Invisíveis” caraubense tem matéria publicada em site a nível nacional

O Instrutor do trânsito, Emanuel Araújo, teve uma matéria publicada no dia 23 de janeiro 2016 no “portal nacional de trânsito” que retrata as Vítimas Invisíveis e o tempos que passaram e as coisas mudaram nas pequenas cidades do interior. Confira na integra todo o conteúdo.

Vítimas Invisíveis

Somos parte de uma geração transitória entre o “antiguismo” e a modernidade tecnológica, e das mudanças sociais que ocorreram no Brasil depois dos anos 2000, tempos em que as pessoas iam e voltavam aos sábados para a feira livre, chamada simplesmente de “feira”, em bicicletas, ou nas caminhonetes nas quais seus donos abarrotavam a carroceria de alimentos e animais para vender na feira , e junto a tudo isso iam os passageiros em pé ou sentados segurando-se nas grades de madeira, pessoas que muitas vezes passavam a semana inteira esperando o dia de ir a cidade para rever amigos de outras comunidades e para tomar juntos uma dose de “pinga” junto ao balcão de algum comércio no mercado, ressaltando que alguns bebiam bem mais que uma dose.

Os tempos foram passando e muitas coisas mudaram nas pequenas cidades do interior, as pessoas tiveram a oportunidade de comprar seus próprios veículos, a dinâmica de trabalho mudou, e os “dois mundos” cidade e campo ficaram mais próximos. Ao passo que as coisas mudaram na zona rural com um aumento significativo de pessoas que possuíam seus próprios veículos, a zona urbana seguiu em ritmo mais acelerado no que se refere à movimentação das pessoas em veículos, e aqueles acidentes que aconteciam pelo fato do bêbado escorregar de cima de um “pau de arara” ou cair da bicicleta e perder parte da feira no caminho, começaram a dar lugar aos acidentes de trânsito em veículos automotores utilizados por pessoas sem a mínima noção de trânsito. Mas fatores primordiais ao trânsito não seguiram este ritmo.

Podemos elencar uma série de fatores, mas resumimos estes em apenas um “trinômio” muito utilizado na área de estudo para o trânsito, o chamado “trinômio E” , onde: Engenharia, Educação e Esforço legal (fiscalização), fazem a sustentação de um trânsito seguro e cidadão.

Ouvimos e sabemos que o trânsito mata muitas pessoas todos os dias no Brasil, principalmente nas grandes cidades, pois é lá onde estão concentradas as maiores massas populacionais e junto a isso os grandes veículos de informação, mas não atentamos para os acidentes e mortes no trânsito que muitas vezes não entram se quer nas estatísticas anuais dos institutos e controladores governamentais, e é isto que nos preocupa, pois a falta dos elementos básicos para um trânsito seguro, maximiza-se nos lugares menores, gerando assim inúmeros casos de acidentes e mortes no trânsito todos os dias, embora isto não seja visto pelo “grande público” e pelas autoridades competentes.

Em Caraúbas, pequena cidade localizada no semiárido nordestino, região oeste do estado do Rio Grande do Norte, esta dinâmica não é diferente, e isto têm preocupado muita gente, nos últimos anos algumas medidas foram tomadas, como a implantação de um centro de formação de condutores, que embora seja uma empresa privada têm se preocupado desde a sua implantação com a educação para o transito, com ações voluntárias, palestras em escolas, e apoio a campanhas como maio amarelo e semana nacional do trânsito.

Implantaram também a sinalização no centro da cidade que devido muitas vezes à falta de fiscalização é desrespeitada e em muitos casos vindo a causar acidentes graves. E por último assistimos a implantação de um setor de fiscalização que inicialmente esteve preocupado em educar as pessoas e orientar para que as mesmas pudessem procurar métodos seguros de se locomoverem e principalmente estarem atentas ao que diz o código de transito brasileiro, posteriormente agentes de trânsito foram treinados e designados a fazerem o trabalho de fiscalização, tentando coibir condutores que não possuíam os documentos obrigatórios, deles e dos veículos, além disso exigindo a utilização de equipamentos de segurança adequados e conforme a lei. Mas, mesmo com o trabalho de fiscalização implantado em Caraúbas, foi detectado que o mesmo se dava em sistema de dias alternados ou por escalas, e esta detecção gerou o desrespeito apenas nos dias em que os agentes de trânsito não estavam trabalhando, ou seja, as pessoas passaram a utilizar capacete por exemplo, apenas nos dias em que os fiscais estavam trabalhando. Mesmo com estas falhas o trabalho estava sendo realizado e muitas práticas inadequadas foram coibidas e consequentemente o número de acidentes diminuiu drasticamente, e isso foi notado pela população que agora estava mais atenta aos preceitos de segurança previstos em lei.

Nos últimos meses notamos a inércia deste trabalho, não nos deparamos mais com os agentes fazendo blitz’s ou parando motociclistas que não estão utilizando, por exemplo, capacetes ou coibindo as práticas imprudentes dos “motoqueiros”, nem mesmo para realizar o trabalho educativo de orienta-los para a utilização dos equipamentos e condutas corretas.

O que conseguimos notar diante desta que esperamos ser uma breve parada no trabalho de orientação e fiscalização na cidade de Caraúbas e demais cidades do interior, é um aumento significativo no número de acidentes envolvendo vítimas, fato que consideramos estar intimamente ligados a não realização do trabalho de fiscalização visto que a maioria das vítimas normalmente não utilizam os equipamentos de proteção no momento dos acidentes . Um exemplo muito claro disto, foram dois acidentes acontecidos em dias próximos que comoveram a população local e da região, onde ambos foram fatais e as vítimas não utilizavam capacetes, e aconteceram em dias próximos um do outro justamente dentro deste período em que o trabalho de fiscalização não esta acontecendo. (Segue links que relatam os acidentes: 01: Icém Caraúbas 02: Passando na Hora RN

Seria muito fácil terminar de ler estes breves relatos e simplesmente dizer que existem interesses por trás destas verdades, ou que pelo fato de trabalharmos em uma instituição de ensino para o trânsito, que isto serviria de incentivo ou até mesmo obrigação para que tivéssemos mais clientes, mas a verdade é que nosso o interesse maior é a VIDA.

Nos colocamos à disposição para que este trabalho de educação para o trânsito não pare e que os demais pilares do trânsito estejam em funcionamento, para que possamos cada vez mais escutar relatos de acidentes que foram evitados pelo conhecimento e habilidade dos condutores, pelas boas práticas adotadas pela população, assim como pelo correto uso dos equipamentos de uso obrigatório dos motociclistas e motoristas.

Diante de tudo o que foi relatado pedimos as autoridades que possam estar atentas a preservação da vida destas vítimas de acidentes de trânsito nas pequenas cidades, vítimas estas imperceptíveis aos olhos da maioria da população e dos grandes órgãos que fazem a gestão e desenvolvem as ações para o cumprimento das leis de transito neste país. “O trânsito somos todos nós”.

* Emanuel de Araújo Almeida é Geógrafo, Diretor de ensino e Instrutor no CFC Ideal Caraúbas em Caraúbas-RN. Contato: emanueljpt@gmail.com

Icém Caraúbas

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