segunda-feira, 1 de julho de 2019

Upanema recebe R$ 19 milhões da Petrobras em 18 meses e moradores da zona rural passam sede

Por Cezar Alves/Mossoró Hoje

O município de Upanema/RN recebeu ao menos R$ 35 milhões da Petrobrás (veja quadro) de 2013 aos dias atuais (período de gestão do atual prefeito Luiz Jairo), sendo que deste valor R$ 14,9 milhões só em 2018. Em 2019 já são mais de 4,2 milhões nos cofres da Prefeitura de Upanema. Apesar da fartura financeiro, a população rural do município vive uma situação caótica.

Não tem sequer água para beber. O acesso é precário, não tem saúde e educação não funciona. O prefeito Luiz Jairo está sendo acusado pelo Ministério Público Estadual de ter se reeleito em 2016 comprando votos. Enquanto o juiz Eleitoral Edson Jales não decide no processo, Luiz Jairo continua gestor do município de Upanema.

As estradas de acesso aos assentamentos estão intransitáveis. As poucas trafegáveis são aquelas recuperadas pelas empresas de fruticultura irrigada que atuam na região. Cerca de 15 empresas, inclusive algumas atuando para o mercado externo. Quando chove, os moradores ficam isolados em algumas comunidades rurais.

É assim no assentamento Monte Alegre e no entorno, apesar dos milhões jorrando na conta da Prefeitura Municipal.

Não tem atendimento médico e a educação é precária. Nestas comunidades, moram 495 famílias, cerca de 2,5 mil moradores. Segundo o próprio prefeito Luiz Jairo, se não fosse a fruticultura irrigada, estas famílias viviam de bicos e caça. Os moradores dizem que se for contar o que já sofreram, iriam todos chorar.

O agricultor José Soares Pimenta, o Cabôclo, é um destes moradores. Ele conta que reside no Monte Alegre há pelo menos 20 anos. Nunca teve água para beber. Sempre foi abastecido pelo programa Carro Pipa, do Governo Federal, através do Exército.

O desabastecimento rural em Upanema, não faz o menor sentido, considerando que o aquífero subterrâneo é gigantesco, raso (cerca de 350 metros) e água é mineral. E só quem não tem acesso a esta "mina de ouro", são as famílias humildes, exatamente por falta de responsabilidade do gestor municipal, que não perfura poços para abastecer as comunidades.

Cabôclo diz que o inverno foi fraco e que perdeu metade da safra de milho e quase não colheu feijão, o que aumenta o sofrimento das famílias e a necessidade de um poço para abastecer a comunidade.

Confira a conversa com MOSSORÓ HOJE com Cabôclo sobre a safra que não vingou.
 
O professor e pesquisador Josivan Barbosa, da UFERSA, confirma a informação dos moradores, sobre a existência do aquífero gigantesco no subsolo da região onde estão localizadas os municípios de Upanema, Governador Dix-sept Rosado, Felipe Guerra e Baraúna. É muito água neste rio gigantesco numa profundidade de 350 metros.

Para resolver o problema do abastecimento na zona rural, acabando com o sofrimento dos moradores, o prefeito Luiz Jairo poderia ter usado os R$ 36 milhões que recebeu da Petrobras, de 2013 aos dias atuais, para perfurar o poços em todas comunidades. Cada poço já com chafariz custaria menos de R$ 500 mil.

Ao MOSSORÓ HOJE, Luiz Jairo, em tom nervoso explicou porque não perfurou poços para matar a sede do homem do campo em Upanema. Como engenheiro agrônomo, o prefeito Luiz Jairo sabe da existência do aquífero e têm os recursos. Não existindo qualquer explicação para não socorrer os mais de 7 mil moradores da zona rural.

Jairo disse que a perfuratriz da prefeitura só faz poço de até 100 metros de profundidade. Para os especialistas consultados pelo MOSSORÓ HOJE, nada o impediu ou impede de contratar uma empresa privada, por meios legais, para fazer poços alcançando o aquífero na profundidade de 350 metros, bastava ter usado uma pequena parte dos R$ 19 milhões que recebeu da Petrobras só de 2018 a 2019.

O MOSSORÓ HOJE foi informado que, na verdade, a perfuratriz está abandonada na zona rural. Não está sendo usada para fim nenhum. Inclusive, os vereadores do município tem ciência destes fatos, mas que parecem inertes ao quadro.

O descaso do gestor com a zona rural atinge também quem precisa de serviços de saúde. A dona de casa Dejanete Cléia da Silva, conhecida carinhosamente na comunidade por Netinha, precisa levar o filho com necessidades especiais para fazer tratamento de saúde (exames e fisioterapia) há vários meses e não tem como e nem onde.

Para ter acesso à escola, as crianças da comunidade sofrem para chegar à cidade. O acesso é dificultado pelas estradas ruins, que não recebem a devida manutenção do poder público municipal, um dever, inclusive, previsto na Constituição Federal, negado aos moradores da zona rural de Upanema pelo gestor Luiz Jairo.

Empresários se sensibilizam com o sofrimento das famílias

O quadro de abandono da comunidade Monte Alegre chamou a atenção da empresa Agropecuária VitaMais, que produz frutas na região. Os empresários Ricardo e Herickson Rocha observaram a necessidade extrema dos moradores e decidiram ajudá-los perfurando um poço, instalando um chafariz para abastecer a comunidade e outras vizinhas.

Em vídeo, Ricardo Rocha fala as razões que o levou a abrir o poço.
 
Durante a solenidade de entrega do poço e do chafariz, o prefeito Luiz Jairo deu uma demonstração, em seu discurso, de que quer que as famílias da zona rural fiquem dependendo do carro pipa e que não tem interesse de investir os milhões que a Prefeitura recebe da Petrobrás na perfuração de poços profundos em benefício destas comunidades.

Luiz Jairo disse que “alguém” do Exército tentou tirar o carro pipa que abastece as comunidades de Upanema, que tem aquífero gigante no subsolo. Ele teria falado com este “alguém”, por telefone, e exigido que o carro pipa continuasse. E disse que brigou e briga por isto, quando deveria usar os recursos do município e resolver o problema em definitivo.

Agora o carro pipa será retirado, graças a visão humana dos empresários da VitaMais (ressaltado na solenidade pelo presidente do IGARN, Caramuru Paiva), que perfuraram o poço de 350 metros, com vazão hora de 8 mil metros cúbicos de água, com um investimento de apenas R$ 300 mil reais. O benefício não tem preço. Está explícito no rosto dos moradores.

"Uma benção de Deus", diz Maria de Socorro, lembrando que sofreram muito em função da falta de água.
 
A vazão de 8 mil metros cúbicos por hora é suficiente para abastecer as famílias de Monte Alegre e as comunidades vizinhas, que sofrem com a falta de água potável.

O agricultor José Soares Pimenta, o Cabôclo, inclusive cita que o inverno em 2019 foi bom, mas não o suficiente para vingar a safra de milho e feijão, o que amplia o sofrimento dos moradores.

Ele ressalta que a safra irregular é um detalhe a mais que torna mais preciosa a doação de água da empresa VitaMais para melhorar a qualidade de vida na comunidade. As palavas de Cabôclo são reforçadas por Maria de Socorro e pelo pastor da comunidade (vídeo acima).

Para o pastor, o ato dos empresários é muito nobre. Trata-se de um ato de partilha (confere acima). A doação da água do poço pela empresa VitaMais, que também paga a energia, trouxe esperança de dias melhores aos agricultores do Monte Alegre. É o que diz o agricultor José Ivo da Costa, que sonha em plantar uma horta no quintal de casa.

As esperanças de José Ivo da Costa deverão se tornar realidade logo nos próximos meses e ampliado. O projeto social da VitaMais prevê a construção de um espaço amplo com salas de alfabetização e ensino fundamental, serviço médico voluntário, aulas de conservação ambiental, horta comunitária, campo de futebol, além de laboratório de inclusão digital.

“Esse poço é apenas um start de um projeto bem maior. Diante da expectativa dos moradores, acredito que esse equipamento vai ser um marco para a comunidade de Monte Alegre”, destacam os diretores Ricardo Rocha e Herickson Rocha.

Inauguração do poço

O poço e o chafariz foram entregues à comunidade de Monte Alegre na manhã desta quinta-feira (27 de junho de 2019), pelos empresários Ricardo e Herickson Rocha, com a presença do prefeito Luiz Jairo, do diretor do IGARN, o engenheiro Caramuru Paiva, professores da UFERSA, diretor regional do Sebrae, entre outras autoridades.

Durante a inauguração do poço e do Chafariz, o presidente do IGARN, Caramuru Paiva, falou sobre o perfil dos dois empresários e da importância da parceria pública privada para melhorar a qualidade de vida das áreas de assentamentos.

Confira a fala de Caramuru Paiva 
 
Ressalta que se trata de uma iniciativa que poderia ser adotada em várias outras regiões do Rio Grande do Norte, com resultados positivos a qualidade de vida da população mais carente.

Prefeito é acusado de ter se reeleito, em 2016, comprando votos

O quadro de descaso generalizado no município de Upanema, que tem cerca de 14,5 mil habitantes, sendo que pelo menos 50% na zona rural, leva a uma série de perguntas. A primeira delas é se existe realmente um quadro de sofrimento das famílias na zona rural, de abandono, de descaso da gestão municipal, se o prefeito Luiz Jairo foi reeleito em 2016?

A resposta está num processo movido pelo Ministério Público na Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte, onde narra que prefeito Luiz Jairo foi reeleito com pouco mais de 160 votos, pagando aos eleitores para votar nele. A grave acusação, com farta documentação comprobatória, aguarda julgamento pelo juiz Edino Jales, da Justiça Eleitoral em Upanema.

Os vereadores do município, em contato com o MOSSORÓ HOJE, na manhã desta sexta-feira (28/06), reconheceram que existe um quadro caótica da zona rural e que têm feito cobranças constantes no plenário da Câmara Municipal de Upanema, sem resposta concreta do Executivo que recebeu só no período de 2018 a 2019, o valor de R$ 19 milhões em Royalties.


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