terça-feira, 25 de novembro de 2014

‘Coxinhas opressoras': o dia em que a vingança virou lucro para um comerciante potiguar

Idacildo Cortez ficou famoso no país, após pichação com acusações antipetista

Jornal de Hoje - Carolina Souza acw.souza@gmail.com

Sem imaginar, o comerciante potiguar Idacildo Cortez, 53, passou do anonimato à fama graças a uma pichação com acusações políticas/partidárias a sua pessoa. A retaliação sofrida, com víeis de tirania, veio através das frases que foram escritas na sua Kombi-Lanche, estacionada em seu rotineiro ponto de trabalho: “Não compre aqui. Ele é anti-PT e fala mal de petista” e “Peça a Aécio que ele paga”.

A manifestação pegou Idacildo de surpresa duplamente, sendo pelo fato inesperado e, agora, pela fama internacional que o comerciante conquistou. Segundo ele, veículos de imprensa de todo o Brasil e do mundo querem contar a sua história, a pressão que ele sofreu e como conseguiu multiplicar as vendas de coxinha em 20 vezes. Hoje, as famosas coxinhas ganharam o nome de “coxinhas opressoras”.

Idacildo conta que frequentemente critica o governo de Dilma Rousseff e do PT nas redes sociais, mas nunca havia imaginado que pudesse passar por uma situação de opressão em seu próprio ambiente de trabalho. Clientes que acompanhavam suas postagens diariamente, principalmente após a acirrada eleição presidencial, passaram a criticá-lo pela maneira em que o comerciante atacava o Partido dos Trabalhadores.

“Sempre quis mostrar minha ideologia para as pessoas, tentando convencer aos meus amigos e clientes que o Brasil precisa de mudança, a começar com a extinção do PT”, conta. “Sempre discuti assuntos políticos nas redes sociais por pensar que ali é um espaço democrático. Essa foi a forma que encontrei de manifestar meu posicionamento”, explicou.

O que Iracildo não esperava é que um dia o ambiente virtual/democrático fosse se virar contra ele e, depois, a favor dele. “Os clientes petistas passavam em frente a minha kombi me chamando de opressor, de anti-petista. Falando que as comidas que eu vendo são opressoras. Tudo por causa da repercussão dos meus comentários nas redes sociais. A curiosidade das pessoas com relação à kombi anti-pestista e aos lanches foi tanta que acabou atraindo muitas pessoas. Então, o que pareceu ruim acabou virando algo muito bom para o meu negócio”, afirmou.

Conforme contou o comerciante, o susto e o temor inicial foram neutralizados em poucos dias por efeitos contrários aos desejados pelos vândalos. A história se espalhou e os fregueses que apoiavam Idacildo começaram a surgir com comentários de bom humor.

Em entrevista a O JORNAL DE HOJE, o Iracildo Cortez contou que resolveu usar o nome ‘coxinha opressora’ devido ao calor dos acontecimentos. “Foi assim que um dia um rapaz pediu a coxinha, em tom de deboche, e eu acabei adotando. Chegaram a pedir ‘cachorro-quente militante’ e até ‘minipizza do congresso’, mas o que pegou mesmo foi a coxinha opressora”, comentou.

Hoje, a Kombi-Lanche ganhou o apelido de “Kombi-Reaça” e o produto mais consumido pela clientela é a coxinha. Antes da fama, o produto com maior número de vendes era o combo pastel + caldo de cana. Agora, as vendas de coxinhas passaram de 10 a 15 unidades por dia para uma média diária de 200 coxinhas.

“O pessoal gosta de chamar quem é contra o PT de ‘Coxinha’ ou até ‘Reacionário’. Resolvi levar na esportiva e aceitei a sugestão, que está fazendo o maior sucesso. Turistas de vários locais do país procuram minha kombi para me cumprimentar. Estou até arriscando dizer que, neste momento, a Kombi-Reaça e a Coxinha Opressora fazem parte dos pontos turísticos de Natal”, afirmou.

Medo

Natural da cidade de Currais Novos, Idacildo Cortez se mudou de vez para a capital potiguar em 1991. Separado, pai de dois filhos adolescentes, ele conta que apesar de estar desfrutando da fama – através das inúmeras entrevistas concedidas e aumento da clientela – ele teme o que pode vir a acontecer. Conforme relatou à reportagem, as manifestações políticas não têm limites.

“Três funcionários que trabalhavam comigo resolveram me deixar no início das acusações. Eu fiquei sozinho aqui e de uma hora pra outra vi tudo se transformar. Continuo trabalhando diariamente, mas sei que corro risco na mão de pessoas que não tem bom senso, como no caso de quem pichou a kombi. Até hoje não seu quem fez isso, muito menos o que ainda pode acontecer”, disse.

Em desabafo, o comerciante conta que sofreu ameaças duas vezes: uma quando teve os pneus do carro furado, enquanto dava uma entrevista, e a segunda através de ligação anônima, quando uma voz de menina chorando chamava pelo pai, pedindo “que fizessem o que eles queriam”. “Não sei do quê ou de quem se tratava. Na mesma hora liguei para minha ex-mulher e me certifiquei que minha filha estava dormindo”, contou.

“Sou um trabalhador comum como qualquer outra pessoa. Não tenho segurança privada, não conto com suporte policial e faço meus investimentos no meu próprio negócio, tudo muito correto. Porém, é fato que algumas coisas mudaram e isso me dá medo”, afirmou.

Após as pichações e a fama conquistada, Idacildo Cortez disse que foi procurado pela Vigilância Sanitária e até pela Cosern (Companhia Energética do Rio Grande do Norte), com denúncia de que ele roubava energia. “Isso prova que tem alguém por trás me perseguindo. Eu sou muito correto com minha Kombi e tenho como provar isso”.

Mercado de franquias

As possíveis perseguições vêm fazendo Idacildo pensar em fechar sua Kombi, para não correr maiores riscos. Porém, ao mesmo tempo, empresários de todos os Estados do Brasil já lhe procuraram com pretensão de ampliar seu negócio, levando a Kombi-Reaça e Coxinhas Opressoras para todos os locais do país.

“Essa é uma possibilidade que estou estudando e vejo que pode dar muito certo. É uma boa saída para mim. Mas preciso parar um pouco para pensar. Não tive tempo ainda de parar para procurar um advogado, fazer uma consultoria. Tudo ainda não passa de propostas”, destacou.

Uma das marcas de Idacildo é um óculos escuro que ele usa todos os dias, uma vez que a kombi começa a vender lanches às 14h. “Por incrível que pareça, há até propostas de lançar os Óculos Opressores. Como havia dito, é muita coisa para minha cabeça. Meu telefone não para, minha rede social é o tempo todo comentada. O assédio está sendo maior que o de artista”, brincou.

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