quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Com oito municípios em colapso no abastecimento, Rio Grande do Norte ainda desperdiça 50% da água

Emparn vê possibilidade de mais um ano de seca
Marcelo Lima/ Jornal de Hoje

Apesar da grave situação do acesso à água no sertão do Rio Grande do Norte, estima-se que metade do líquido coletado seja desperdiçado. A responsabilidade por isso é tanto da população, quanto do Estado. Se por um lado há quem lave a calçada com água potável, por outra o poder público não faz a manutenção correta da estrutura hídrica.

Acrescenta-se a esse quadro, a falta de água em oito municípios do interior e a forte possibilidade de seca por mais um ano, apontada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn).

De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) do RN, Mairton França, medidas emergências foram discutidas, hoje pela manhã, em reunião de técnicos da sua pasta, da Caern e do Instituto de Gestão de Águas do Rio Grande do Norte (Igarn). Ainda segundo ele, os técnicos da Semarh finalizaram ontem um diagnóstico da situação hídrica do Estado.

Com seca desde 2012 no Rio Grande do Norte, o volume de água está cada vez menor. “A dificuldade maior deste ano é que os níveis dos reservatórios estão menores que no ano passado”, observou o secretário.

Em uma verificação feita há dois dias, o secretário lembrou que o açude Gargalheiras e o de Pau dos Ferros são os que estão em situação mais grave. “Gargalheiras está em torno de 2,52% da sua capacidade. Pau dos Ferros está bem baixo, com 1,52%. E isso já é volume morto”, disse.

No Alto Oeste, a solução foi instalar uma adutora de engate rápido para que a água do reservatório Santa Cruz/Apodi aliviasse a seca na região. No entanto, o diâmetro da adutora não possibilita a passagem de água em pressão e volume suficientes para manter o abastecimento completamente normalizado.

Os três maiores reservatórios do Estado (Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz/Apodi e Umari) ainda se mantêm num nível razoável, 35% da sua capacidade. “Acima dos 30%, ainda é uma situação confortável”, considerou Mairton França. O secretário informou que a atual capacidade da barragem Armando Ribeiro Gonçalves ainda possui água suficiente até 2019, mesmo se não chovesse até lá.

Mas a expectativa, de acordo com a observação do histórico das secas, é que 2015 seja o último ano seguido do fenômeno. “Tradicionalmente, as secas do semiárido nordestino duram de um a quatro anos”, ressaltou.

Na Região Metropolitana de Natal, os reservatórios de Extremoz, Jiqui e Lagoa do Bomfim também estão longe de apresentar nível crítico na sua capacidade. “Estamos com uma posição confortável, mas isso não quer dizer que população possa usar a água de forma que não seja racional”

Medidas emergenciais

Os oito municípios que estão em colapso no abastecimento de água (São Miguel, Tenente Ananias, Paraná, João Dias, São Francisco do Oeste, Antonio Martins, Luis Gomes e Carnaúba dos Dantas) já estão recebendo água por meio de carros-pipa segundo o titular da Semarh. Esse programa de abastecimento alternativo, realizado pelo Exército Brasileiro, é uma das medidas emergências previstas.

França também pretende ampliar o número de perfuração dos poços. No dia 22 deste mês, a chefe do setor hidrogeologia da Semarh disse a nossa equipe de reportagem que havia cerca de 1.700 poços perfurados e não instalados no Rio Grande do Norte.

Isso acontece porque as prefeituras fazem a solicitação à secretaria, mas depois não entram com o dinheiro do maquinário para fazer o poço funcionar. O equipamento mínimo para usufruir da água é um cata-vento (ou bomba) e um pequeno reservatório para depositar a água na superfície. Esse conjunto tem um valor médio de R$ 23 mil.

O secretário acredita que esse número de poços não instalados precisa ser atualizado, mas já adiantou que dará prioridade para aqueles municípios que equiparam seus poços caso eles venha precisam de outros.

Convém destacar que a abertura de um poço aberto deixa margem para contaminação do manancial de água. Um agrotóxico utilizado para combater pragas pode acabar com a qualidade da água dessas reservas subterrâneas. “Existe a possibilidade de contaminação porque você cria uma ligação direta do solo com o lençol freático. Depois de contaminado, a dificuldade técnica para se despoluir um aqüífero é imensa”, comentou França.

Além disso, a Semarh vai articular uma campanha educativa de uso racional da água junto com a Secretaria de Comunicação do Estado. Em outra ponta, ele prometeu investimentos no sistema para evitar vazamentos e outros problemas. “A gente encontrou muito poucos projetos de manutenção na estrutura hídrica do Estado, quase nenhum”, contou.

Convivência com a seca 

O comitê de convivência com a seca se reunirá no próximo dia nove conforme informou Mairton França. Dessa forma, as ações ganharam uma integração maior, segundo ele, uma vez que órgãos do governo e da sociedade civil compõem o comitê. Um dos pontos a ser discutido é a manutenção do decreto de situação de emergência em 80% dos municípios do Estado. Conforme o titular da Semarh, o atual decreto é válido até março deste ano.

Também será definido um plano conjunto com as medidas anunciadas acima. “No ano passado, esse plano de emergência foi enviado para o Ministério da Integração Nacional, mas não foi colocado em prática. Não sei o motivo”, expôs.

Para o longo prazo, o governo planeja tornar as bacias do Rio Grande do Norte comunicantes entre si. Essa estratégia possibilidade que a água de uma determinada bacia um pouco mais farta possa ser transposta para outra. “Um plano que integre as bacias é uma das prioridades do governo Robinson, inclusive estava no programa de governo dele”, finalizou.

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