quinta-feira, 20 de maio de 2021

Filhas rezam todos os dias em janela de hospital por mãe internada com Covid-19 no RN; 'Enche o coração de fé', diz enfermeira

Há 20 dias, a rotina de duas irmãs no município de Santo Antônio, no interior do Rio Grande do Norte, tem sido de fé: elas vão até a área externa do hospital Hospital Regional Lindolfo Gomes Vidal e rezam pela vida da mãe, Maiza Vieira de Souza, de 61 anos, da janela do quarto em que ela está internada com Covid-19.

A fé das irmãs Ana Carolina de Souza e Ana Cláudia de Souza comoveu a equipe de saúde do hospital, que trabalha diariamente na recuperação de Maiza, que está intubada há 14 dias.

As filhas de Maiza não moram atualmente no Rio Grande do Norte - uma vive em Lisboa, Portugal, e outra em São Paulo. Elas chegaram à cidade após uma primeira suspeita de contaminação da mãe, que não se confirmou. Pouco tempo depois, ela foi diagnosticada com o coronavírus.

Sem conseguir a recuperação em casa, ela precisou ser internada no fim de abril. Dias depois, a doença agravou e Maiza precisou ser intubada. E durante todos esse tempo, do primeiro dia até esta quarta-feira, a rotina das irmãs é rezar pela recuperação da mãe na janela do quarto em que ela está.

"Todos os dias rezamos. Chegamos aqui às vezes 17h, 18h, 19h e saímos às 20h, 22h, 24h. Tudo depende da forma com que a gente sente a necessidade e o quanto o nosso coração fica calmo, tranquilo, ou quanto a gente acha que ela precisa mais da nossa presença. E, graças a Deus, até aqui nós temos sido abençoadas grandemente", contou a filha Ana Carolina de Souza.

As filhas vivem atualmente a expectativa por uma possível extubação (quando o paciente sai da intubação) após uma melhora no quadro da mãe.

Os profissionais da equipe médica que tratam Maiza contam que a oração das irmãs pela mãe tem mudado inclusive o ambiente de trabalho.

"Como profissional de saúde, principalmente em linha de frente, nas UTIs, a gente vê muita morte, muita coisa que às vezes a fé fica um pouco de lado, a gente fica mais racional. Aí vem uma situação dessa que nos desmonta e faz a gente se sentir humano novamente. Enche o coração fé e de humanidade", contou a enfermeira Andréa Oliveira.

Para a enfermeira, "a fé delas tem feito diferença a na recuperação da mãe".

"A fé delas aumentou a minha fé, de sempre acreditar. Você vê que o ambiente fica diferente. É uma coisa muito forte, só sabe quem está lá", disse.

Depois de alguns dias de oração, a equipe médica e as filhas de Maiza criaram uma relação. Elas, por vezes, chegam a rezar juntas - mesmo separadas pelas janelas.

"Depois de alguns dias, nós começamos a ver o quanto que Deus colocou no nosso coração um propósito maior. As enfermeiras vinham chorar pra gente, uma que a sogra tinha tido um infarto, outra que o pai estava doente, e que nós estávamos fortalecendo elas", contou Ana Carolina Souza.

"Elas choram, sentem, estão muito sensíveis por conta dessa situação da Covid-19, de chegar pessoas a todo instante e não ter onde colocar. A nossa fé foi além da minha mãe. Ela contagiou o hospital de tal maneira, que eles acreditam mesmo quando eles veem um paciente crítico".

Para a enfermeira Andréa Oliveira, o companheirismo das filhas com a mãe tem feito a diferença. "Nosso dia a dia é pesado. A gente, tem hora que não acredita que a gente conseguiu. E aí vem uma oração, um louvor, uma e tudo faz diferença".

Ela conta que já viu diversas orações no hospital, mas nunca a persistência diária como tem acontecido. "Existe muita fé e acontece muita coisa, mas, como elas, foi a primeira vez. Todos os dias, elas ficam lá muito tempo, todo dia todo lá fora fazendo orações. Tem muita fé lá dentro, muitas orações, muitas pessoas que acreditam, mas como as filhas dela ali todos os dias, foi a primeira vez que vi", diz.

G1 RN

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