segunda-feira, 7 de junho de 2021

“Descanse em paz, Raissa, e nos perdoe por ter falhado com você”; Menina de 11 anos morta em ritual é sepultada no interior do RN

Por Cézar Alves/Mossoró Hoje com informações Grupo Cidadão 190 RN

A sociedade, em seu íntimo, se sente culpada pela morte brutal da menina Raissa Cristina Martins Ferreira, de 11 anos, na noite do dia 26 de maio de 2021, em Pau dos Ferros. Ela faz parte de uma parcela da sociedade que é invisível aos olhos do Estado.

Está lá, mas ninguém a enxerga. Alguns por virar o rosto no sinal de trânsito, outros simplesmente por ignorar aquele quadro social de pobreza e alguns por serem impossibilitados de enxergar além do vidro fumê do carro comprado em 90 prestações.

Raissa foi brutalmente morta pelo psicopata Gilnei Bento Nazário, de 29 anos, que deveria está preso, por já ser condenado por estupro. Ele ocultou o corpo da menina dentro de um sofá (caixa) na cozinha de sua casa.

Tinha a intenção de enterra-la, mas desistiu e tentou fugir.

Gilnei Nazário e sua companheira (uma adolescente de 17 anos), confessaram que após o bárbaro crime em Pau dos Ferros, fugiram pegando carona e pedindo comida de Pau dos Ferros para Natal, de onde certamente pretendiam fugir para outro local. Foram presos perto da rodoviária.

Quando vi a fotografia de Raissa e um pequeno relato de pessoas a procurando, enviada pelo grupo do amigo Nelson Mandela, de São Francisco do Oeste, percebi no ato que se tratava de uma menina em que todos estavam vendo e, ao mesmo tempo, ninguém a enxergava.

Dos três entes de estado, fica evidente a ausência de uma política pública específica para cuidar de casos assim, por uma razão simples: o Estado não tem ciência da presença no seio social de monstro, como este de Pau dos Ferros, que fez o que fez com Raissa.

O primeiro passo para que as Raissa sejam vistas, pelos olhos de quem as salve, é estabelecer um levantamento, realizar um estudo científico, definindo o perfil das vítimas deste tipo de crime e também o perfil do monstro que é capaz de fazer este tipo de barbaridade.

A título de contribuição com este possível estudo, que não deve ser feito por quem desconhece ou ignora metodologia científica, disponibilizo abaixo a relação de casos que acompanhamos de 1996 aos dias atuais, que se assemelham ao caso Raissa.

Não estamos fugindo, no entanto, do distrito da culpa, enquanto sociedade, pelos assassinatos brutais como estes que ocorreram em Ipanguaçu, Mossoró, Assú, Jucurutu, São Miguel do Gostoso, Natal, Apodi e agora em Pau dos Ferros. Trata-se apenas de uma pequena voz no final do túnel para que reduza as chances de barbaridades como estas voltem a acontecer. É nosso dever enquanto cidadão.

Sepultamento

O corpo de Raissa foi liberado do ITEP nesta sexta-feira, dia 4/6, para velório e sepultamento. Uma multidão acompanhou o corpo da casa ao cemitério público municipal, muitos erguendo cartazes pedindo por justiça, para que nunca mais volte a acontecer.

Encerramos com a frase final do texto publicada no Cidadão 190, de Pau dos Ferros, editado pelo agente de segurança Tiago Aragão.

“Descanse em paz, Raissa, e nos perdoe por ter falhado com você”.

Outros casos parecidos de meninas (o) raptados e mortos por psicopatas

1996, 10 de novembro - Ipanguaçu

Elizete Moura Lemos, de 10 anos, foi raptada, possivelmente estuprada, assassinada e seu corpo jogado no leito do Rio Pataxó, na localidade de Arapuá, em Ipanguaçu. Sete suspeitos foram presos, o principal deles: Francisco Heleno Felipe, o Heleno de Gelon. Depois de 22 anos do crime, Heleno de Gelon foi preso em flagrante tentando fazer o mesmo com a outra menina, da mesma idade e na mesma comunidade. Se encontra preso.

1999 - Mossoró 

O garoto Francisco José de Medeiros da Silva, de 12 anos, foi raptado, violentado e morto no bairro Redenção. O acusado Marcelo Pereira de Sena foi preso, porém, alegando insanidade mental, foi solto.

2006, 23 de março - Assú

Marcelo Pereira de Sena raptou outro menino: Alexsandro Lourenço de Araújo, o 'Sandrinho', de 9 anos, o violentou sexualmente e depois o matou com uma faca, em Assu. O corpo foi deixado num lixão. Foi preso novamente e atualmente está no hospital psiquiátrico, em Natal. Ele confessa.

2011, 14 de agosto - Jucurutu

Alecsandro Soares de Melo, de 36 anos, levou a força a menina Milena Soares da Silva, de 9 anos, para o mato, a violentou sexualmente e depois a matou batendo com uma pedra a cabeça dela, no sítio Logradouro, em Jucurutu-RN. Foi julgado e condenado.

2012, julho - Tibau

A menina Cinthia Lívia de Araújo, de 12 anos, foi raptada, estuprada e morta por Poliano Cantarelle Fernandes da Silva, de 35 anos, na cidade de Tibau/RN. Ele foi preso, processado e condenado pelo crime. Está cumprindo pena.

2013, Janeiro – São Miguel do Gostoso

A menina Maria Vitória Henrique da Costa, de 12 anos, foi raptada, estuprada e morta, por Moisés Costa de Oliveira, de 36 anos, numa região de mato perto da casa onde morava com os pais, no município de São Miguel do Gostoso. Neste caso, não se tem conhecimento do destino do assassino.

2018, 28 de março - Natal

O pedreiro Marcondes Gomes da Silva, de 45 anos, raptou, violentou sexualmente e matou a menina Yasmim Lorena de Araújo, de 12 anos, numa casa na praia de Ponta Negra, em Natal. O acusado está preso, cumprindo pena.

2018, 18 de setembro - Apodi 

Paulo Batista de Sousa, de 26 anos (já condenado por estupro), matou a menina Maria Carla da Silva, de 12 anos, irmã de sua companheira, também menor, por asfixia, após tentar violenta-la sexualmente. O corpo foi encontrado 30 dias depois, no mato. O assassino confessou o crime e no dia 7 de novembro de 2019 restou condenado no Tribunal do Júri Popular a 23 anos de prisão. Atualmente se encontra cumprindo pena.

Em todos os casos, os acusados eram próximos das famílias das vítimas. Os acusados, que têm idade de 25 a 45 anos, também não se comportam como se fosse culpado pelos crimes. Deixam a entender que o culpado é a própria vítima, que tem sempre idade de 10 a 12 anos e são de famílias humildades, quase sempre desestruturada.

Os assassinos, em seus depoimentos, contam histórias delirantes, como: matei porque ouvir vozes e ou porque foi num ritual de magia negra. Na realidade, matam por que esta é a natureza deste tipo de psicopata ao não conseguir consumar o estupro.

Os acusados em todos os casos são frios, calculistas, geralmente tem trabalho definido, inclusive, em alguns casos até ajudaram a família e a polícia a procurar pela vítima que ele mesmo havia matado e ocultado do corpo.

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